domingo, 28 de novembro de 2010

3 - Complementaridade das actividades económicas
O encadeamento das actividades económicas faz com que os agentes económicos interajam uns com os outros no desempenho das suas funções. Apresentam-se, em seguida, alguns exemplos dessa interacção.
As famílias consomem os bens que as empresas não financeiras produzem e adquirem os serviços financeiros prestados pelas instituições financeiras. Mas as empresas necessitam de mão-de-obra para produzirem bens e serviços. Assim, além de consumirem, as famílias também entregam às empresas a sua força de trabalho em troca de uma remuneração.
Por outro lado, os indivíduos que trabalham para a administração pública recebem do Estado os seus vencimentos. Em sentido contrário, os agregados familiares entregam ao Estado os impostos que este cobra, assim como, as respectivas quotizações sociais. O Estado, através da atribuição de subsídios, destina as verbas que recebe dos cidadãos à redistribuição do rendimento e, por outro lado, dedica-se à produção de bens e serviços que visam a satisfação das necessidades colectivas.
As empresas também estabelecem relações com a Administração Pública. O Estado consome bens e contrata serviços às empresas efectuando o  pagamento correspondente e, inversamente, cobra-lhes impostos e contribuições sociais. Mas as empresas também estabelecem relações com o agente Resto do Mundo sempre que efectuam transacções comerciais com o exterior. 
Fluxo real - Conjunto de bens e serviços transaccionados entre dois ou mais agentes.
Fluxo monetário - Quantidade de moeda transaccionada entre dois ou mais agentes.
As relações que se estabelecem entre os diferentes agentes denominam-se fluxos, que podem ser reais ou monetários, conforme dizem respeito à troca de bens e serviços ou ao valor monetário dos bens e serviços transaccionados. Podemos então falar em fluxos reais, quando nos referimos ao conjunto dos bens e serviços trocados entre os diferentes agentes económicos, e em fluxos monetários, quando as transacções de bens e serviços são expressas em moeda.
No esquema fornecido nas aulas estão representados alguns dos fluxos que se estabelecem entre as famílias e as empresas não financeiras. As famílias, por um lado, entregam a sua força de trabalho (fluxo real) em troca dos seus salários (fluxo monetário). Por outro lado, as empresas recebem das famílias despesas de consumo (fluxo monetário) em troca de bens e serviços (fluxo real). Genericamente, poderemos representar as relações entre as várias unidades económicas do seguinte modo:
No entanto, se fosse preciso quantificar estes fluxos para representar a realidade de uma economia, isso seria muito difícil pois os fluxos reais podem ser expressos de modos diferentes. Basta ver que os bens têm várias unidades de conta como, por exemplo, o peso, o comprimento, a capacidade, a quantidade, etc. Uma empresa tanto pode vender 50 000 pães, como 20 000 litros de azeite, 800 metros de rede ou 3 000 toneladas de farelo. Por outro lado, as prestações de serviços também não são fáceis de quantificar de forma homogénea, pois podem ser de natureza muito variada, como o caso de uma consulta médica, de um parecer jurídico ou de uma acção de formação, tornando difícil a esquematização da realidade.
Contudo, essa dificuldade pode ser ultrapassada. A forma mais simples de representar as relações entre os diversos agentes é converter os fluxos reais em fluxos monetários. Os fluxos monetários apresentam uma enorme vantagem sobre os fluxos reais, pois permitem representar toda a realidade de forma facilmente comparável, já que a unidade é sempre a mesma – unidades monetárias (euros, dólares, etc.). Por essa razão, geralmente, quando se pretende representar uma realidade económica em esquema, utilizam-se os fluxos monetários.
Vejamos então como se constrói um circuito económico, que é uma representação esquemática de todos os fluxos que se estabelecem entre os diferentes agentes. Começaremos por analisar individualmente os fluxos de cada agente, para, no fim, os agregarmos todos e obtermos um circuito económico global. Os fluxos monetários de cada agente podem ser de dois tipos: recursos, os fluxos que correspondem a entradas (recebimentos) ou empregos, os fluxos que correspondem a saídas (pagamentos). 
Começando pelas famílias, podemos dizer que estas entregam o valor dos bens e serviços que consomem às empresas não financeiras. Por outro lado, como os empresários são os indivíduos que aplicam capital nas empresas, é das famílias que parte o investimento. Em contrapartida, estas empresas pagam os salários aos seus funcionários, entregam rendas pelos imóveis que arrendam e distribuem lucros aos empresários. Ainda é de referir que tanto os trabalhadores como os proprietários dos imóveis pertencem ao agente famílias.
No que respeita às instituições financeiras, as famílias entregam-lhes os seus depósitos, recebendo juros em troca, amortizam o valor dos empréstimos concedidos, entregando-lhes os respectivos juros, e ainda pagam prémios de seguro, sendo indemnizadas quando ocorrem os sinistros segurados. Como os funcionários das instituições financeiras também pertencem ao agente famílias, os seus ordenados constituem um fluxo de entrada deste agente.
O Estado recebe impostos e quotizações sociais das famílias, entrega-lhes prestações sociais, como subsídios ou pensões, e paga os vencimentos dos funcionários públicos.
Passando às empresas não financeiras, estas entregam os seus depósitos às instituições financeiras, recebendo, em troca, os juros; também amortizam os seus empréstimos pagando-lhes os juros devidos e fazem seguros pelos quais são indemnizadas em caso de sinistro. As instituições financeiras efectuam investimentos nas empresas não financeiras que, por sua vez, lhes entregam os respectivos lucros.
As empresas não financeiras pagam impostos e contribuições sociais ao Estado que, em determinadas circunstâncias, lhes atribui subsídios à produção. As empresas não financeiras também vendem bens ao Estado pelo que recebem o valor das despesas de consumo deste agente.
As instituições financeiras, para além do que já foi referido, ainda entregam impostos e quotizações sociais à Administração Pública, remuneram os depósitos do Estado através de juros, e concedem-lhe empréstimos, pelo que cobram juros, além de também o indemnizarem pelo valor dos seguros subscritos.
No que se refere ao Estado, já foram mencionados atrás todos os fluxos que ele estabelece com os outros agentes, pelo que apenas se apresenta o quadro com a síntese de todas as relações.
Quanto ao Resto do Mundo, embora estabeleça relações de troca com todos os agentes, é com as empresas não financeiras e as instituições financeiras que trava o maior número de negócios. As empresas não financeiras nacionais trocam bens e serviços com as suas congéneres estrangeiras. A entrada de bens corresponde a um fluxo monetário de saída (valor das importações) e a saída de bens corresponde a um fluxo monetário de entrada (valor das exportações).
No que respeita às transacções entre as instituições financeiras e o resto do mundo, elas são representadas por meio de um fluxo único, designado fluxo de compensação. A razão de ser deste fluxo é que os saldos das trocas entre os diferentes países se inscrevem na Balança de Pagamentos que tem de estar sempre saldada. Geralmente, é preciso equilibrar o saldo da Balança de Pagamentos e para isso pode ser necessário proceder de duas formas diferentes. Por um lado, se o saldo é negativo, deve-se procurar obter um financiamento externo para permitir a entrada de divisas e quando o saldo é positivo, deve ser feita uma colocação financeira no exterior para fazer sair divisas.
No quadro fornecido nas aulas são apresentadas as contas do ponto de vista nacional. Assim, onde aparecem os valores das exportações e das importações referimo-nos às exportações e importações do nosso país. Caso se tratasse dos registos estrangeiros, em vez das importações nacionais estariam exportações e em vez de exportações nacionais apareceriam as importações desse país. O fluxo de compensação inscreve-se sempre como emprego do agente resto do mundo, sendo precedido do sinal (–) quando corresponde a um saldo negativo.
Acabámos de reunir todas as informações necessárias para a construção de um circuito económico. Assim, se agregarmos num esquema único as informações principais contidas nas tabelas de cada agente, obteremos o resultado que se pode observar no esquema fornecido nas aulas.
Actividade 2
1.   Explicite como se pode observar a complementaridade existente entre as diversas actividades económicas.
2.   Distinga fluxos reais e fluxos monetários.
3.   Redija um pequeno texto, sobre algumas das relações que se podem estabelecer entre as Famílias e as Empresas não financeiras de uma determinada localidade.
 
 
 

quarta-feira, 24 de novembro de 2010

Os agentes económicos e actividades económicas

Agentes económicos e actividades económicas
 Os agentes económicos

Todos nós participamos de algum modo na actividade económica, quer seja porque consumimos, quer porque contribuímos para a produção ou porque estabelecemos relações de troca com outros países. Para uma melhor compreensão de todo processo, os vários intervenientes são agregados em categorias diferentes de acordo com a principal função que desempenham. No entanto, convém salientar que embora cada indivíduo possa exercer mais do que uma função em simultâneo, ele só poderá pertencer a uma categoria, aquela que melhor representa a sua função principal.
 Os agentes económicos são assim todas as entidades individuais ou colectivas que se agregam numa categoria, por desempenharem a mesma função na actividade económica. As principais categorias de agentes económicos que existem são: 

Famílias: é a categoria que dá especial atenção ao consumo, isto é, agrega os indivíduos enquanto representantes do consumo de um país. Embora neste agente também se incluam indivíduos que desempenham outras funções como, por exemplo, os trabalhadores que entregam a sua força de trabalho às empresas ou os empresários que aplicam a sua capacidade de empreendimento à produção de bens e serviços, a principal função que caracteriza as famílias é o consumo, pois uma grande parte dos seus rendimentos utilizada para consumir.
      Empresas: nesta categoria incluem-se todas as unidades produtivas de um país que contribuem para a criação de bens e serviços, sendo a produção a principal função exercida. Mas ainda podemos decompor este agente em dois: as empresas não financeiras e as empresas financeiras, as quais designamos de Instituições financeiras. As empresas não financeiras são aquelas que produzem os bens e serviços não financeiros (aquelas que, normalmente, chamamos simplesmente de empresas) e as Instituições financeiras são as que comercializam produtos financeiros, como os bancos ou as seguradoras.
·         Estado (Administração Pública): engloba a Administração Central, as autarquias locais e a Segurança Social e tem como função principal promover a satisfação das necessidades colectivas. O Estado dedica-se à produção de bens e serviços que os particulares normalmente não estão dispostos a oferecer e que, por várias razões, têm de ser prestadas por entidades isentas. São exemplo disso a educação, a saúde, a justiça, a defesa, etc.
Por outro lado, para além de fornecer bens e serviços com vista à satisfação das necessidades colectivas, o Estado também intervém na economia através da redistribuição dos rendimentos. O Estado cobra impostos e outras contribuições a quem tem fontes de rendimento, para os entregar aos mais carenciados sob a forma de prestações sociais como, por exemplo os subsídios de desemprego ou as pensões.
Resto do Mundo: este agente reflecte a abertura das economias nacionais à comunidade internacional, apresentando as relações económicas que se operam entre um país e o resto do mundo. Também pode ser denominado como Exterior. Aqui registam-se as transacções realizadas entre os agentes nacionais e os agentes estrangeiros. Actualmente, quase não se pode falar em economias fechadas, pelo que é praticamente impossível viver sem estabelecer relações de troca com outros povos. A maioria das nações estabelece relações económicas com outros países, vivendo assim em modelos de economia aberta.


Actividades económicas
No primeiro módulo, vimos que a actividade económica corresponde ao conjunto de operações levadas a cabo pelos agentes económicos, com o objectivo de criar bens e serviços capazes de satisfazer as necessidades do Homem. Também foi dito que a actividade económica engloba a Produção, a Distribuição, a Repartição e a Utilização dos Rendimentos. Analisemos agora o modo como se encadeiam estas actividades.
A Natureza fornece-nos os recursos em bruto para depois serem transformados em bens capazes de satisfazer necessidades. Mas os bens percorrem um longo caminho até ficarem aptos para serem consumidos. Numa primeira fase, passam pela produção que é a actividade onde são gerados através de processos de transformação, como é o caso das matérias-primas que, depois de transformadas, dão origem a produtos acabados prontos para serem comercializados.
A etapa seguinte é a distribuição que engloba duas actividades, o transporte e o comércio. Os bens, por um lado, têm de ser transportados desde o produtor até ao utilizador, podendo neste caso ser o consumidor final ou outro agente que os possa usar como intermédios no processo de fabrico de outros bens. O comércio, por outro lado, permite que os bens sejam colocados à disposição dos consumidores de forma prática e conveniente.
A comercialização dos bens gera rendimentos que são distribuídos por todos os agentes participantes na actividade económica. Esta distribuição denomina-se repartição dos rendimentos e revela o contributo de cada um no processo produtivo.
Assim, cada interveniente obtém os rendimentos de acordo com a sua participação na actividade económica:
- Os trabalhadores são remunerados através de salários;
- Os empresários recebem lucros;
- Os proprietários de imóveis cobram rendas;
- Os detentores de capital auferem juros.
Por outro lado, também importa compreender o modo como se processa a utilização dos rendimentos, ou seja, saber o que acontece aos rendimentos gerados nas actividades de produção e distribuição de bens. Os rendimentos distribuídos pelos agentes que participaram na actividade económica podem ter dois destinos, eles podem ser empregues em consumo ou poupança.
O consumo consiste na utilização imediata de um rendimento na aquisição de bens e serviços com o objectivo de satisfazer as necessidades actuais. A poupança é a utilização do rendimento diferida no tempo, isto é, quando os detentores do capital renunciam a possibilidade de o utilizar no momento presente para poderem consumir no futuro.